Cansada de tanto fazer perguntas, sendo a maioria sem respostas, e também percebendo a ausência das pontuações nos diversos textos espalhados pelas redes sociais, e preocupada com o descaso das autoridades do nosso país com o processo de ensino atual, a interrogação decidiu promover uma assembleia e convidou todos os seus amigos para discutir o assunto da constante dúvida. No dia, o primeiro a chegar foi o ponto final. Ele já entrou querendo dar um fim na discussão, mas foi impedido pela vírgula, que separou de imediato o tema para que as demais pontuações tivessem a oportunidade de chegar a um veredito. Durante a conferência vários assuntos foram tratados, até mesmo a importância de algumas pontuações que estavam sendo colocadas em dúvida, como, por exemplo: o pouco uso da exclamação, das aspas e das pontuações consideradas secundárias; o ponto e vírgula, o travessão e as reticências. No debate, todos tentavam convencer, de forma incisiva, que não haveria texto se não existisse todo o conjunto. Quando foi questionada a respeito de sua finalidade, a vírgula deu como exemplo o seguinte contexto: perdemos o jogo, vamos virar meninos! Perdemos o jogo, vamos virar, meninos! O ponto final, não querendo ficar para trás, reagiu dizendo que se não fosse por ele as frases nunca teriam fim. A interrogação, irritada com a supremacia das pontuações que se acham essenciais, não deixou por menos, tomou a frente e pediu explicações urgentes sobre as afrontas, mas foi interrompida pela exclamação, que apesar de pouco usada, foi logo explicando os motivos de tanta dúvida. A confusão se generalizou, era exemplo para cá, exemplo para lá, um verdadeiro show de frases pontuadas. Até que em determinado momento, percebendo que não daria para se chegar a uma conclusão plausível, os dois pontos gritou: — vamos acabar com essa palhaçada, não chegaremos a lugar algum agindo dessa forma. O melhor a se fazer, é aceitarmos o nosso papel no contexto gramatical, não seria melhor assim? Afirmo que seria! Como diz o velho ditado “cada macaco no seu galho”. Cada um tem a sua importância, todos merecem ser prestigiados, mesmo aqueles que se consideram secundários; ninguém é melhor que ninguém… (falei).
Os dois lados da mesma moeda por Flávio Lopes Barbosa