Cansada de tanto fazer perguntas, sendo a maioria sem respostas, e também percebendo a ausência das pontuações nos diversos textos espalhados pelas redes sociais, e preocupada com o descaso das autoridades do nosso país com o processo de ensino atual, a interrogação decidiu promover uma assembleia e convidou todos os seus amigos para discutir o assunto da constante dúvida. No dia, o primeiro a chegar foi o ponto final. Ele já entrou querendo dar um fim na discussão, mas foi impedido pela vírgula, que separou de imediato o tema para que as demais pontuações tivessem a oportunidade de chegar a um veredito. Durante a conferência vários assuntos foram tratados, até mesmo a importância de algumas pontuações que estavam sendo colocadas em dúvida, como, por exemplo: o pouco uso da exclamação, das aspas e das pontuações consideradas  secundárias; o ponto e vírgula, o travessão e as reticências. No debate, todos tentavam convencer, de forma incisiva, que não haveria texto se não existisse todo o conjunto. Quando foi questionada a respeito de sua finalidade, a vírgula deu como exemplo o seguinte contexto: perdemos o jogo, vamos virar meninos! Perdemos o jogo, vamos virar, meninos! O ponto final, não querendo ficar para trás, reagiu dizendo que se não fosse por ele as frases nunca teriam fim. A interrogação, irritada com a supremacia das pontuações que se acham essenciais, não deixou por menos, tomou a frente e pediu explicações urgentes sobre as afrontas, mas foi interrompida pela exclamação, que apesar de pouco usada, foi logo explicando os motivos de tanta dúvida. A confusão se generalizou, era exemplo para cá, exemplo para lá, um verdadeiro show de frases pontuadas. Até que em determinado momento, percebendo que não daria para se chegar a uma conclusão plausível, os dois pontos gritou: — vamos acabar com essa palhaçada, não chegaremos a lugar algum agindo dessa forma. O melhor a se fazer, é aceitarmos o nosso papel no contexto gramatical, não seria melhor assim? Afirmo que seria! Como diz o velho ditado “cada macaco no seu galho”. Cada um tem a sua importância, todos merecem ser prestigiados, mesmo aqueles que se consideram secundários; ninguém é melhor que ninguém… (falei).

Os dois lados da mesma moeda por Flávio Lopes Barbosa

By Flávio Lopes Barbosa

Flávio Lopes Barbosa é escritor, psicólogo, professor e diretor do portal o menestrel. Nasceu em São Paulo – Capital onde reside atualmente. Formado em psicologia clínica pela Universidade São Marcos, tem formação em letras pela Universidade Nove de Julho, lato sensu em tradutor e interprete da língua inglesa pela Universidade Nove de Julho, lato sensu em psicologia do trânsito pelo Centro Universitário Celso Lisboa, curso de psicanálise infantil pela Universidade Federal de São Paulo e especialização em dependência química. Lecionou durante anos como professor universitário na Universidade Nove de Julho. Iniciou sua carreira como escritor se dedicando a uma escrita técnica e científica. Atualmente trabalha como psicólogo do trânsito junto ao Detran SP e escreve contos de terror psicológico. Possui nove livros publicados, gosta de abordar temas polêmicos e críticos em seus artigos, normalmente voltados para área pessoal e social.

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