Eu nunca vou esquecer aquele Natal. A neve caía devagar, cobrindo as ruas com um manto branco e frio. Eu estava descalço, com meu casaco remendado, espiando as vitrines cheias de brinquedos e comidas que eu nunca poderia ter.
Na praça, uma enorme árvore brilhava com luzes coloridas, e as crianças riam e desembrulhavam presentes ao redor dela. Eu me sentei num canto, só para assistir de longe. Foi quando uma menina de casaco vermelho me viu.
— Você está com frio? — perguntou ela, aproximando-se.
Eu tentei sorrir, mesmo com os pés gelados.
— Um pouco.
Sem dizer mais nada, ela me entregou um pequeno embrulho.
— É pra você.
Eu hesitei.
— Não posso aceitar. É seu presente.
Ela sorriu.
— Eu já tenho tudo que preciso.
Quando abri o pacote, encontrei um par de luvas de lã quentinhas. Naquele momento, senti algo maior que o frio: esperança. Talvez o Natal fosse mesmo um tempo de milagres.